Durante o cerco de Lisboa,
estabeleceram D. Afonso Henriques e os cruzados seus aliados os respectivos
arraiais ao redor dos muros da cidade; no local onde se instalou o arraial dos
coloneses e flamencos foi erguida, ainda durante o cerco, uma ermida e
organizado um cemitério destinado às vítimas da conquista de Lisboa. Depois da
tomada da cidade, decidiu o rei mandar construir um mosteiro neste local,
entregando-o à guarda de um abade estrangeiro denominado Gualter ou Gualtero e
mais tarde aos cónegos regrantes de Santa Cruz, de Coimbra. Denominou-se
Mosteiro de São Vicente de Fora, por se encontrar construído no exterior da
Cerca Moura.
Na década de 1170, D. Paio Gonçalves, Prior-Mor
do mosteiro entre 1172 e 1205 ou 1208, iniciou a construção de um hospital;
cabia ao Prior-Mor do convento a supervisão de todas as actividades do hospital,
ajudado pelos “oficiais”, que cuidavam do fornecimento do hospital e da
alimentação dos doentes. O Camareiro ou Vestiário era auxiliado pelo
Hospitalário, um irmão converso que cuidava directamente do acolhimento
prestado aos enfermos, pobres e idosos. [1]
D. Afonso Henriques deixa em testamento
datado de 1179, uma quantia para as obras do hospital, que não estariam ainda
terminadas. Existe ainda uma carta de D. Paio dirigida ao mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra indagando acerca do modelo de gestão e da sustentabilidade
económica do hospital coimbrão, provavelmente para que servisse de modelo em S.
Vicente de Fora.
O hospital era constituído por dois
espaços distintos, sendo um deles uma albergaria para pobres e o outro um
verdadeiro hospital assistencial para doentes; existiria ainda uma capela e um
espaço destinado ao acolhimento de peregrinos. Supõe-se que a sua localização
fosse a sul do convento, presumivelmente ladeando o claustro. Na primeira
metade do séc. XIII, o hospital possuía um corpo clínico de médicos e uma
biblioteca especializada, sabendo-se que recebeu em 1207 uma remessa de livros
de medicina, provenientes do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Sabemos que a
instituição se manteve em actividade até ao reinado de D. João II. [2]
[1] Carlos
Guardado da Silva, O Mosteiro de S.
Vicente de Fora – a comunidade regrante e o património rural (séculos XII-XIII),
Edições Colibri, 2002, p. 62-72
[2] Paulo Almeida Fernandes, Hoc Templum Aedificavit Rex Portugalliae Alphonsus I: O Mosteiro
Medieval, Mosteiro de São Vicente de Fora – Arte e História,
http://academia.edu/AddAffiliation, p. 97- 99
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