Fundado antes de 1292 por peregrinos
ingleses, situava-se ao sul da igreja da Madalena, na rua do Hospital dos
Palmeiros. A Albergaria era anexa ao hospital.[1] Destinava-se a acolher
peregrinos que vinham de Jerusalém, aos quais chamavam palmeiros por trazerem
palmas bordadas nas suas capas. O hospital tinha associada uma ermida de
invocação de Nossa Senhora de Belém; sobre a porta existia um letreiro que
assim dizia: “Este Hospital he dos pobres
Palmeyros, e Peregrinos e resgatados delle e de outro Hospital de Cacilhas
perto d’Almada; os honrados confrades desta cidade de Lisboa na era de 1330”[2],
sendo a data referenciada à era de César.
É provável que a sua administração
tenha sofrido algumas modificações ao longo dos muitos anos do seu
funcionamento, tendo o hospital sido administrado por uma confraria de vinte
cidadãos – confraria de Nossa Senhora – segundo Cristóvão Rodrigues de Oliveira
(em 1551), ou por vinte e cinco Irmãos dos principais cidadãos desta cidade de
Lisboa, que elegiam entre si um provedor e um escrivão que cobravam os foros,
segundo o registo do padre José Azevedo Álvaro (após o terramoto de 1755).
Havia neste hospital uma hospitaleira, cuja função era de limpar e concertar a
casa, e agasalhar os peregrinos.[3] A
sua existência está confirmada em 1400, dado que é referenciado no testamento
de Catarina Lopes; aí residia na altura Afonso Anes.[4]
Ainda existe a funcionar em 1551,
segundo Cristóvão Rodrigues de Oliveira, tendo nesta data renda de oitenta
cruzados. Sabe-se também que, por ordem de D. João V, sendo procurador da Coroa
o Desembargador João Alves da Costa, foi a sua administração entregue à
Congregação do Senhor Jesus dos Perdões, sediada na paróquia de Santa Maria Madalena.[5] Foi destinado, por alvará régio de 21 de
Junho de 1628, a recolhimento de meninos perdidos.[6]
À data do grande terramoto tinha o hospital de
renda 86.716 reis, em foros e alugueres de casas; após o desastre e o grande
incêndio subsequente, muitas das suas casas se lhe queimaram, ficando apenas
com 19.414 reais em foros.[7] Localizado,
por altura do terramoto de 1755, na parte ocidental do quarteirão compreendido
entre o beco do Cura e a Rua de D. Mafalda (cruzamento das actuais ruas de S.
Julião e da Madalena) , temos conhecimento que terá ardido,[8] mas não é possível concluir,
pela descrição paroquial ao tempo do terramoto, se o hospital sobreviveu
funcionando ou se se extinguiu, como tantas outras coisas na cidade de Lisboa.
Certo é que funcionou durante cerca de quinhentos anos, prestando o seu serviço
à cidade.
[1]
Fernando da Silva Correia, Os Velhos
Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de
Lisboa, 1941, p. 11 e 12
[2]
Paróquias da Baixa-Chiado, Memórias de
Uma Cidade Destruída, Alètheia Editores, 2005, p. 117. Vieira da Silva, As
Muralhas da Ribeira de Lisboa, 2ª ed., Vol. I, Câmara Municipal de Lisboa,
1940, p. 163-164
[3]
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa
em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim
eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte,
1987, p. 62
[4]
Luiz de Macedo, A Rua das Pedras Negras,
Lisboa, Edição da UP, 1931, p.24
[5]
Paróquias da Baixa-Chiado, Memórias de
Uma Cidade Destruída, Alètheia Editores, 2005, p. 112
[6]
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga –
Segunda Parte – Bairros Orientais, 2ª ed., vol. IX, Lisboa, Câmara
Municipal de Lisboa, 1937, p. 190
[7]
Paróquias da Baixa-Chiado, Memórias de
Uma Cidade Destruída, Alètheia Editores, 2005, p. 118
[8]
Paróquias da Baixa-Chiado, Memórias de
Uma Cidade Destruída, Alètheia Editores, 2005, p. 162
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