No início da época medieval encontrava-se
a península Ibérica na posse dos Visigodos, tendo sido tomada pelos muçulmanos
em 711. A ocupação árabe foi mais diplomática que militar, tendo a submissão
dos autóctones entre Tejo e Mondego, incluindo a cidade de Lisboa, sido feita
por tratado, provavelmente no ano de 714.[1] Os povos nórdicos, contudo,
não aceitaram facilmente a perda do território, sabendo-se que em 844 chegou a
Lisboa uma frota com 54 naves dos normandos, com o objectivo de tomar a cidade;
sofreu a urbe este ataque viking, tendo sido estabelecido cerco e gerado muito
dano no seu termo, conseguindo inclusivamente romper o muro sobre o mar e penetrar
em alguns pontos da cidade; a população cercada reagiu como podia, tentando
prejudicar os invasores - “porque tiravam
água das fontes que estavam junto ao muro, os cercados levantaram engenhos e
meteram-na por canos em muitos lugares da cidade”[2].
Permaneceu a cidade sob administração
muçulmana até à conquista cristã executada por D. Afonso Henriques em 1147. Apesar
da insuficiência de elementos quantitativos, a população de Lisboa está
calculada em cerca de 5.000 habitantes no ano de 1147, crescendo
progressivamente ao longo da primeira dinastia até cerca de 63.500 no reinado
de D. João I.[3]
Sabemos que no fim da idade Média, mais precisamente cerca do ano de 1551,
existiam na cidade 100.000 almas, incluindo 9.950 escravos, mas excluindo a
corte e os estrangeiros.[4]
A área da cidade era reduzida, limitada
inicialmente pela muralha da Cerca Moura ou Cerca Velha, que abrangia o castelo
com a alcáçova e cercava o velho bairro de Alfama até ao Tejo; mais
tardiamente, o crescimento da cidade obrigou à construção da muralha Dionisina
no fim do sec. XIII, para protecção do casario que se estendia principalmente
para ocidente, ultrapassando o esteiro do Tejo, braço de rio localizado na actual
Baixa; completou-se posteriormente a defesa de Lisboa com a Cerca Fernandina ou
Cerca Nova, entre 1373 e 1375.
As habitações lisboetas nos séculos XII
e XIII seriam predominantemente térreas, por vezes existindo sótão e covas,
onde eram guardados géneros alimentares, geralmente utilizando pedra, cal,
taipa e adobe, por se aplicarem técnicas características de construção árabe. A
evolução arquitectónica fez-se para casas com vários andares (sobrados), a
partir de meados do séc. XIII, utilizando a madeira e nascendo a estrutura da
varanda em protusão sobre a rua; por regra, possuíam um pátio adjacente, assim
como um jardim, horta ou pomar. O facto de se ter começado a utilizar madeira
obrigou à importação deste material (também motivada pelo aumento da construção
naval) e tornou os edifícios mais susceptíveis a incêndios, conhecendo-se
grandes fogos em 1369 (arderam todas as casas da Rua da Ferraria e grande troço
da Rua Nova) e em 1373 (ardeu toda a Rua Nova, as freguesias de Santa Madalena
e de São Gião e toda a Judiaria, devido a fogo posto pelos Castelhanos)[5].
Em 1502 numa das freguesias do centro
de Lisboa, a de Santo Estêvão, encontramos principalmente edifícios de dois
pisos (64%), seguindo-se as casas térreas (20%) e as de três pisos (16%). Os
edifícios compunham-se por um piso térreo designado por loja ou sótão, muitas
vezes destinado a adega ou celeiro, por vezes alojando oficinas ou tendas e os
pisos superiores, designados por sobrado
ou sobradado, com função geralmente
residencial.[6] Cerca
do ano de 1551 existiam cerca de 10.000 casas em Lisboa, sendo a maioria de
dois a cinco sobrados.[7]
As ruas da cidade eram estreitas,
raramente se encontrando uma rua com mais de oito pés de largura
(aproximadamente 2,60 m), facto confirmado por uma ordenação de D. Afonso IV em
1329: “Sejam as ruas bem espaçosas que
possam as gentes por elas andar e cavalgar sem embargo”.[8]
[1]
Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval
– a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri,
2008, p. 55
[2] António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, 3ª
ed. Caminho, Lisboa, 2008, p. 171
[3]
Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval
– a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri,
2008, p. 267-269
[4]
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa
em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim
eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte,
1987, p. 101
[5] A.
H. De Oliveira Marques, A Sociedade
Medieval Portuguesa – aspectos da vida quotidiana, Lisboa, edições A Esfera
dos Livros, 2010, p. 92-93
[6]
Núcleo Científico de Estudos Medievais, Instituto de Estudos Medievais, F.C.S.H
– U.N.L., A nova Lisboa medieval,
Lisboa, Edições Colibri, 2007, p. 139
[7]
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa
em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim
eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte,
1987, p. 101
[8] A.
H. De Oliveira Marques, A Sociedade
Medieval Portuguesa – aspectos da vida quotidiana, Lisboa, edições A Esfera
dos Livros, 2010, p. 92-93
Alfama - Arco do Pernambuquel: típica rua medieval |
Castelo - Imóveis de estrutura medieval |
[1] Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 55
[2] António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, 3ª ed. Caminho, Lisboa, 2008, p. 171
[3] Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 267-269
[4] Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte, 1987, p. 101
[5] A. H. De Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa – aspectos da vida quotidiana, Lisboa, edições A Esfera dos Livros, 2010, p. 92-93
[6] Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte, 1987, p. 101
[7] A. H. De Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa – aspectos da vida quotidiana, Lisboa, edições A Esfera dos Livros, 2010, p. 92-93
Sem comentários:
Enviar um comentário