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quinta-feira, 26 de abril de 2012

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital de Santa Maria de Rocamador ou de Frei João (?)

Este hospital, foi provavelmente fundado no ano de 1200 (?), no tempo de D. Sancho I, por Pedro Esteves e sua mulher Clara Geraldes, tendo uma longevidade de cerca de 300 anos.
Sabemos que no lado sul do adro da antiga Igreja de S. Julião, se situava a ermida de Nossa Senhora da Oliveira ou de Santa Maria da Oliveira, junto à qual se encontrava o hospital – (...) casas onde chamam a oliveira, a par do hospital de frei João[1]. Em 1300, ao tempo de D. Diniz, foi fundada a confraria da invocação de Santa Maria de Roca Amador, passando o governo do hospital para as mãos dos confrades. Em 1373 encontramos referência à instituição: umas casas situadas na “rua das cornas (rua das Esteiras) partem com uma parte do aguião (norte) com hospital de Santa Maria de Rocamador, e ao poente com rego (rua dos Ourives do Ouro) e com casas de F. contra o avrego (sul); e ao levante com rua publica (rua das Esteiras)”. O hospital é ainda referido em 1400 “No adro de São Gião da dita cidade, casas que partem com rua publica que chamam a rua das esteiras, e d’outra parte com casas que foram de F. e d’outra parte com albergaria de Rocamador e da outra parte com rego”.[2] Em 1450 o provedor do hospital requer a D. Afonso V que conceda ao estabelecimento o direito de herdar todos os bens móveis do pobres que aí falecessem[3].
O hospital é ainda referenciado em 1499 “dentro do hospital de Santa Maria de Rocamador, edificado na Rua das esteiras, freguesia de São Gião”, sabendo-se que foi por fim incorporado no Hospital de Todos-os-Santos.[4] O edifício foi vendido e demolido antes de 1502, para no seu lugar ser construído outro prédio.[5] Em 1504  é referenciado como instituição já não existente: “o hospital que foi de Santa Maria de Rocamador, em a dita cidade, na Rua Nova del Rei, freguesia de São Gião (...) à entrada da Rua Nova del Rei”.
Esta área sofreu várias transformações nos anos seguintes: o esteiro do Tejo, designado no século XIV por Rego Merdeiro, que na época escoava as águas provenientes de Arroios, ocupava a actual baixa de Lisboa e estendia-se até ao Rossio, aproximadamente no percurso que hoje segue a Rua do Ouro; foi desaparecendo por assoreamento natural e pela mão da construção humana. Em meados do século XV foi o rego tapado, construindo-se sobre ele a Rua Nova do Cano, mais tarde Rua Nova de El-Rei (finais do séc. XV), Rua Nova dos Ourives do Ouro e finalmente Rua dos Ourives do Ouro. A Rua Nova tomou a designação de Rua Nova dos Mercadores (séc. XV), cuja parte oriental passou a designar-se Rua Nova dos Ferros no séc. XVI. Junto ao hospital situou-se uma fonte, fonte ou chafariz de Santa Maria da Oliveira, ou ainda chafariz da Rua Nova, designada nos fins do século XVI por chafariz dos Cavalos, por ter figuras de cavalos em bronze; a igreja de São Julião, a ermida de Nossa Senhora da Oliveira e o chafariz ficaram destruídos no terramoto de 1755, tendo sido a primeira construída noutro local (onde hoje se encontra, virada para o Largo de São Julião) e a segunda reedificada aproximadamente na mesma localização, no lado norte da Rua de São Julião, entre as actuais ruas do Ouro e Augusta.


[1] A. Vieira da Silva, As Muralhas da Ribeira de Lisboa, vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p. 102, citando a Chancelaria de D. Diniz, liv. III, fl. 6, era 1337 (1299)
[2] A. Vieira da Silva, As Muralhas da Ribeira de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 38
[3] Rita Luis Sampaio da Nóvoa, A Casa de São Lázaro de Lisboa – Contributos para uma história das atitudes face à Doença (sécs. XIV – XV), dissertação de mestrado em história medieval, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, 2010, p. 90
[4] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 11
[5] A. Vieira da Silva, As Muralhas da Ribeira de Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 39

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