D. Maria Anes de Aboim era filha de D.
João de Aboim, Mordomo-mor do rei D. Afonso III, tendo recebido de seus pais a vila
e castelo de Portel, Vila Boim e vários outros bens, foi casada com o fidalgo
espanhol D. João Fernandes de Límia; já viúva desde 1316, sem descendência, lavrou
o seu testamento em Lisboa, a 30 de Julho de 1337 (1375 na era de Cristo), no
qual deixou fundado um hospital, falecendo nesse mesmo ano. Consideramos então
o hospital como fundado em 1375, tendo 10 camas destinadas a merceeiras.[1]
No testamento de D. Maria Aboim poderia
ler-se: “filho as minhas casas dapar de
S. Domingos de Lisboa, também as de morada, como as foreiras para deus e mando
que os meus testamenteiros façam em elas um hospital em que ponham dez mulheres
pobres no dito hospital, que sejam de boa nomeada e um homem para ser
Albergueiro e mandarão que lhe deem em cada um ano seis côvados de valenciana a
cada uma e ao Albergueiro e de dois em dois anos a elas e ao Albergueiro
sapatos e vinte soldos para camisas e cada dia dezoito dinheiros a cada uma
para comer”. D. Maria deixou ainda ao hospital bens existentes em Lisboa,
Sintra, Mafra e Leiria, pratas, alfaias, azêmolas e toda a liteira (roupa de
cama). [2]
O hospital ficava situado na freguesia
de Santa Justa, perto de S. Domingos, a norte do Paço dos Estaus e
encostando-se no seu lado norte à Torre da Inquisição da muralha fernandina,
que pertencia ao hospital;[3]
esta situação localiza-nos na actualidade no quarteirão situado na Praça D.
João da Câmara, a norte do Teatro D. Maria II.
Foi o hospital administrado durante
muitos anos pela Câmara de Lisboa; sabe-se que um dos seus Provedores foi
Lourenço Anes Curto, provedor de 1389 a 1404 e de 1406 a 1407, ano em que foi exonerado
por D. João I, devido a incompetência e falta de zelo, a pedido da Câmara; o
rei autoriza o Conselho de Lisboa, que governava à data o estabelecimento,[4]
a nomear novo provedor e compromete-se a liquidar as dívidas que Lourenço Anes
tivesse contraído no exercício do cargo. D. João II, seguindo a sua política de
poder sobre as instituições, particularmente sobre os hospitais, assume a
administração em substituição da Câmara. Sabe-se ainda que continuava o seu
funcionamento no ano de 1492, quando se foi feito um aforamento de umas casas
que lhe pertenciam, por Estevão Martins, Mestre Escola na Sé e Provedor-mor e
juiz dos Hospitais, Albergarias, Confrarias e Capelas de Lisboa.[5]
[1]
Fernando da Silva Correia, Os Velhos
Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de
Lisboa, 1941, p. 10
[2]
Augusto da Silva Carvalho, Crónica do Hospital de Todos-os-Santos, Edição do V
Centenário da Fundação do Hospital Real de Todos-os-Santos, 1992, p. 285-286
[3] A.
Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de
Lisboa, vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1948, p. 102
[4] A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433),
Anexo I – Corpo Prosopográfico, p. 552, em http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/569/7/17434_7-Anexo_1.pdf
[5]
Mário Carmona, O Hospital Real de
Todos-os-Santos da Cidade de Lisboa, 1954, p. 55
[6]
Fernando da Silva Correia, Os Velhos
Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de
Lisboa, 1941, p. 11
[7] João
Brandão (de Buarcos), Grandeza e
abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 130
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