Foram instituídas por D. Afonso IV e
sua mulher D. Brites (ou Beatriz), localizando-se inicialmente defronte do
Campo das Cebolas, na Ribeira Velha, segundo João Batista de Castro.[1]
Sabemos que El-rei D. Diniz teve vários
filhos bastardos, entre os quais se conta D. Fernão Sanches, a quem o monarca
fez muitas doações: a aldeia de Recadães em 1294, a herdade da Orta de Nomão em
1300, a lezíria dos Pastos no termo de Santarém em 1303,o Reguengo de Oliveira
do Conde em 1306. Casado com D. Froilha Annes de Briteiros e sem filhos, doou ainda
em vida a seu meio-irmão D. Afonso IV, as herdades que possuía no termo de
Santarém. Pensa-se que D. Fernão Sanches terá morrido pouco depois de 13 de
Novembro de 1327. D. Afonso IV presenteou a rainha D. Brites com estas
herdades, anexando-as às capelas e hospital que instituiu em Lisboa.[2]
No seu testamento redigido em 1345, o
rei D. Afonso, falecido a 29 de Maio de 1357, instituiu um hospital para “homens e mulheres pobres, […] que nas casas que nos compramos na freguesia da Sée se faça
hum hospital a serviço de Deus, no qual se mantenhão para sempre vinte e quatro
pobres”,
tendo igualmente deixado um regulamento para o funcionamento da instituição.[3] Aí se
alojavam 12 merceeiros e 12 merceeiras.[4]
Em 1354,D. Afonso IV e a Rainha D.
Beatriz instituem uma capela na Sé de Lisboa fazendo-lhe doação, com excepção
das propriedades pertencentes aos mostairos de Arouca e Lorvão, de todo o
conselho de Alverca, como consta no trasladado no Tombo das Capelas: “[...] com
consentimento, outorgamento e prazimento do Infante Dom Pedro noso filho e do infante
D. Fernando noso neto, damos e doamos haa dita nosa capella que he fundada na
igreja catedral de Lixboa (...) pera mantimento dos capellaees e pobres e dos
outros encarreguos dessa capella e sprital a nosa Villa d’Alverca, que chamã de
comdado, com todos seus termos e com toda pose e propriedade e com todallas
herdades e vinhas, olivaees, pumares, casas, foros, juguados, per qualquer
maneira que as nos asy avemos, e todollos outros dereitos, pertenças que a nos
peertençam [...].”O mesmo aconteceu com terras de Viana do Alentejo e do Gradil. [5]
Em 1410 as terras das Capelas eram
quarteiras, isto é, os moradores de Alverca eram obrigados ao pagamento de um
quarto da produção de vinho, cereais, azeite, frutas, legumes e linho para
aquela instituição.[6]
Encontramos referência a este hospital
num alvará de el- Rei D. João I, datado de 26 de Agosto de 1429, ordena o
monarca que Afonso Peres, provedor das mercearias, mandasse encerrar os portões
do hospital, de modo a evitar “... Que pessoas, assim homens como mulheres vão
dentro do dito esprital, e que levam a ello bestas e cães mortos, e esterco
(...) para os lançarem ao mar per cima do
muro, ...”, assim como outros estragos que enumera. Em 1430 era provedor
deste hospital Gonçalo Esteves.[7]
Em 1453 os moradores de Alverca recusavam
pagar o quarto de
azeite, frutas, legumes e linho, e em 1456 D. Afonso V emitia um documento onde
permitia a obrigação de apenas pagarem um quarto de azeite, vinho e cereais,
assim como um cesto de azeitonas, em cada dez produzidos. Em 1501, a maior
parte das fazendas de Alverca pagavam somente um sexto da produção daqueles
produtos.[8]
No Tombo das propriedades da Câmara de
Lisboa, comprova-se a modificação da localização desta Mercearia cerca do ano
de 1543, situando-se então nas traseiras da igreja de Santo António, local onde
parece ter ficado até ao tempo de terramoto de 1755: “da banda do norte parte com terra firme, e muro que estaa debaixo da
mercearia das Merceeiras das capelas delrrey D. Afonso […]”.[9] Teremos
ainda dela referência no ano de 1551, nas palavras de Cristóvão Rodrigues de
Oliveira: “está na Sé a capela d’El-Rei
D. Afonso o quarto, e da Rainha D. Brites, sua mulher, onde estão sepultados na
capela-mór: a qual tem dez capelães, e doze merceeiros, e doze merceeiras. E
tem de renda mil e quinhentos cruzados.”[10] Refere João Brandão que a
mercearia tinha vinte merceeiros, dez homens e dez mulheres, com aposentos
apartados não podendo constituir-se casais, e que teriam de ser “pessoas honradas e de boa vida e fama”.
Usufruíam para seu sustento quatro alqueires de trigo e trezentos reis em
dinheiro, para conduto, duas canadas de azeite e um saco de carvão; em cada
dois anos e meio davam-lhes dois mil reis para vestuário e as casas seriam
limpas semanalmente.[11]
Em 1589 era juiz das Capelas, Heitor Furtado de Mendonça.[12]
Em 1785 construiu-se ao pé da igreja de
S. Jorge (actualmente desaparecida), na Rua do Limoeiro, actualmente Rua
Augusto Rosa nº 15, uma casa para os merceeiros; sobre a porta foi colocada uma
inscrição que o atesta:
Casas
para
Habitação
dos merceeiros do SNR. REY
D.
AFFONSO IV e Merceeiras da SNR.ª RAYNHA
D.
BEATRIZ Sua Mulher novam.te edificadas
Pelo
favor e ordem da RAYNHAFIDELLISSIMA
D. MARIA
I nossa SENHORA em o Anno de
MDCCLXXXV
Sendo
Provedor D. Caetano de Noronha
Em 1837, as Capelas passam a ser designadas
como Reaes Merciarias do Senhor Rei D.
Affonso 4º, tendo passado, a administração para o Ministério do Reino. Esta
alteração fez cessar a cobrança de rendas até então da responsabilidade dos provedores,
pelo que os Mercieiros e Mercieiras ficaram sem rendimentos, apelando então à
rainha: “[…] a Graça de Numiar pesoa que
se encarregue de cobrar Exzecutar e promover tudo quanto se lhe deve e lhes
pertense pelas exzecuçoes que Exzistem perparadas mesmo com pinhoros e depozitarios
e tudo o mais como foros certos em Sabtarem em Alhandra Alverca e Gradil Vianna
do Alentejo e finalmente em qualquer parte onde exzistiaõ Bens, e Rendas desta
Repartiçaõ q lhes foraõ aplicadas pelos Reaes Instituidores param sua
sustentçaõ conforme a declaraçaõ em seos Testamentos os suptes Real Senhora cheios de
fome e afliçaõ vem por este modo aos Reaes Pés de V. Magestade Implorar”[13]
A instituição foi, por decreto de 26 de
Novembro de 1851, incorporada no Asilo de Mendicidade.[14] No entanto, a instituição
continuou a ser foreira de várias propriedades em Alverca, pelo menos até 1875.[15]
[1]
João Batista de Castro, Mappa de Portugal,
tomo I, p. 348, citado em Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano,
Lisboa, Edições Colibri, 2008, p.168
[2] D.
João I, Livro da Montaria,
(Apêndices), publicado por Francisco Maria Esteves Pereira da Academia de
Ciências de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1918, p. 453-454, em http://purl.pt/14553/2/sa-7118-v_PDF/sa-7118-v_PDF_24-C-R0150/sa-7118-v_0000_capa-capa_t24-C-R0150.pdf
[3]
Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval
– a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri,
2008, p. 224
[4]
Fernando da Silva Correia, Os Velhos
Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de
Lisboa, 1941, p. 12
[5] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 41-42
[6] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 42
[7]
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga –
Bairros Orientais, 2ª ed., vol. VI, Câmara Municipal de Lisboa, 1936, p.
35-37
[8] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 43
[9]
Luis Lourenço, Livro Primeiro do Tombo
das Propriedades foreiras à Câmara, Edição da Câmara Municipal de Lisboa,
1950, p.9
[10]
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa
em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim
eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte,
1987, p. 18
[11] João
Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança
de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 134
[12] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 43
[13] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 51
[14]
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga –
Bairros Orientais, 2ª ed., vol. VI, Câmara Municipal de Lisboa, 1936, p.
37-38
[15] Anabela
Silva Ferreira, Casa da Câmara de Alverca
– Conhecer a sua História, Valorizar um Património, Dissertação de Mestrado
em Estudos do Património, Universidade Aberta, Lisboa, 2007, p. 52
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