Situado nas Fangas da Farinha,
localização actual do tribunal da Boa-Hora, na R. Nova do Almada, sabemos que
tinha uma enfermaria para cada sexo, com um total de 25 camas, [1] mas
desconhecemos a data da sua fundação.
Encontramos referência a este hospital
em 1432, numa escritura do Convento da Trindade: “... Mais ela emprazou por o modo suso dito um quintal com suas árvores que
o dito mosteiro ha na dita calçada (Calçada de Santa Maria do Carmo, mais
tarde designada por Calçada do Carmo) abaixo
dos paços do Almirante que parte com casas de Pero Anes cara-bodes e com
quintal do dito Pero Anes e com quintal do dito João Gonçalves e com casas do
Hospital de Santana e com casas de Álvaro Afonso, marinheiro ...”.[2]
Em 1551, encontramos dele uma
descrição: “O Hospital de Santana às
fangas da farinha é muito antigo, onde há sempre enfermos de enfermidades
incuráveis. E afirma-se que há agora alguns doentes de vinte e trinta anos. Há
nele duas enfermarias, uma por baixo com treze leitos, e outra por cima com doze.
E tem cuidado da casa uma enfermeira. E nas enfermarias se diz missa todos os
dias; e, se faltam, a Misericórdia lhas manda dizer, e provê estes enfermos de
todo o necessário, e dá a cada um cada semana cem reis. O que vale cada ano
trezentos e cincoenta cruzados.”[3]
Em 1552 o hospital é descrito como
anexo do Hospital de Todos-os-Santos, do seguinte modo: “Tem outro hospital às Fangas da Farinha, que antigamente se chamava
Hospital de Santana, onde também tem enfermos destes males, que são incuráveis.
Os quais provêm de cama e todo o necessário, e dão 12 rs cada dia para seu
mantimento. E tem missa aos domingos.”[4]
Gustavo de Matos Sequeira afirma que o Hospital
de Santana seria outro nome do Hospital de Nossa Senhora da Vitória.[5]
Permitam-me que discorde. Os dois hospitais são descritos no capítulo
intitulado “Hospitais que há na cidade” da obra de Cristóvão Rodrigues de
Oliveira encomendada por D. João III, em 1551, como instituições diversas,
nomeando designadamente: [1º] Hospital de Todos-os-Santos, [2º] Hospital de Nossa Senhora das
Virtudes, que ora se chama da Vitória, [3º] Hospital de Santa Ana, às Fangas da
Farinha, [4º] Hospital dos Palmeiros, [5º] Hospital dos Pescadores Chincheiros,
ou de Nossa Senhora dos Remédios, [6º] Hospital dos Pescadores Linheiros e [7º]
Hospital de Cata-que-farás. Nesta descrição apresenta-nos as duas instituições
divergindo no número de camas e no valor das rendas auferidas. Uma outra
descrição, de João Brandão (de Buarcos), também descreve ambas as instituições
como entidades diferentes, pelo que não é credível que se tratem do mesmo
hospital.
[1]
Fernando da Silva Correia, Os Velhos
Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de
Lisboa, 1941, p. 11
[2]
Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a
Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de
Lisboa, 1939, p. 113
[3]
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa
em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim
eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte,
1987, p. 62
[4] João
Brandão (de Buarcos), Grandeza e
abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 127
[5]
Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a
Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de
Lisboa, 1939, p 114
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