Foi este hospital fundado por Catarina
Lopes, viúva de Vicente Pires Sardinha-e-meia, na freguesia da Madalena, a
norte da igreja, junto das casas onde vivia, no local onde mais tarde se ergueu
o prédio de João de Almada no Largo da Madalena. A Albergaria, referenciada no
seu testamento em 1400, mantinha 5 pobres e só poderia ser administrada por um homem bom da freguesia; para seu
mantimento, ordenou Catarina Lopes, que lhe fosse fornecido anualmente três
moios de trigo, dois tonéis e meio de vinho, dois carneiros, um porco, azeite e
ainda dez soldos diários a cada pobre “para
conducto”; por morte de Catarina Lopes, ficou como administrador o
principal herdeiro e seu criado, Gonçalo Rodrigues Camelo.
Sucedeu a seu pai como terceiro senhor
da albergaria, Gonçalo Gonçalves Camelo, falecido sem descendência a 19 de Maio
de 1451 e ao que parece, amigo de El-Rei D. Duarte, encontrando-se o seu nome
associado ao cargo de Chanceler do rei[1];
deixou este a administração da albergaria a Afonso de Almada, morador na
freguesia da Madalena e escudeiro da casa real (4º administrador); Afonso de
Almada nomeou seu filho Aires de Almada (5º administrador), em 21 de Junho de
1483, para lhe suceder na administração, tendo por fim esta sido entregue a seu
filho Luiz de Almada (6º administrador), lente na Universidade de Coimbra,
desembargador dos Agravos e corregedor do crime.
Continuou a administração da albergaria
a passar de pai para filho ao longo dos anos seguintes: Francisco Almada de
Melo (7º administrador), João de Almada de Melo (8º), António Almada de Melo
(9º) e João de Almada de Melo, fidalgo e capitão de cavalos, comissário da
cavalaria na província da Beira e alcaide-mor de Palmela (10º). Este último
teve dois filhos, António José e D. Teresa Luíza, mãe de Sebastião José de
Carvalho e Melo, futuro primeiro ministro de Portugal; António José de Almada e
Melo herdou de seu pai a albergaria (11º administrador), tendo-a legado a seu
filho João Manuel de Almada e Melo, primeiro visconde de Vila Nova de Souto de
El-Rei; este João de Almada mandou deitar abaixo as casas das Pedras Negras no
ano de 1749, de modo a construir um prédio no mesmo local, localizado entre a
Rua da Correaria e a Rua das Pedras Negras, dando para o Largo da Madalena;
durante a construção foram encontrados vários pedaços de colunas, duas bases de
coluna, um capitel de ordem jónica e várias pedras de origem romana, algumas
das quais foram colocadas na da parede do novo edifício que dá para a actual
Travessa do Almada.[2] Este
edifício, tendo resistido ao terramoto de 1755 que arrasou todo o bairro,
pertenceu depois ao Marquês de Pombal; ainda existe (2014), na esquina da Rua
da Madalena com a Travessa do Almada.
Edifício dos Almadas, na esquina da R. da Madalena com a Travessa do Almada |
Uma das pedras de origem romana, colocada do edifício dos Almadas |
Nota:
João Brandão refere serem fundadores Catarina Lopez e Luis de Almada seu marido[3],
o que nos parece incorrecto, pois mais de cem anos os separam. Desconheço se se
trata de um erro do próprio João Brandão ou da edição consultada, a qual
assenta na edição de Gomes de Brito de 1923. Pareceu-nos contudo mais fiável a
cuidadosa e pormenorizada descrição de Luís Pastor de Macedo.
[1]
Judite A. Gonçalves de Freitas, O Portugal Atlântico e o Portugal Mediterrâneo
na itinerância régia
de meados do século XV (1433-1460), em http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/378/1/Territórios
do poder.pdf, pg.7
[2]
Luiz de Macedo, A Rua das Pedras Negras,
Lisboa, Edição da UP, 1931, p. 26-33
[3]
João Brandão (de Buarcos), Grandeza e
abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 135
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